- provavelmente não me consegues ver.. -respondeu uma voz.
na verdade não consegui mesmo ver ninguém, só podia estar a dar em louca. permaneci parada a olhar á minha volta procurando aquele que falava com uma voz grossa e sombria. um medo miudinho começou a entrar dentro de mim.
olhei derrepente para a porta branca, a unica saida da cozinha, um rapaz loiro, alto, com os olhos castanhos-avelã.
- olá, sou o Tom e estou morto.
a cara dele assustava-me, não que fosse feio, muito pelo contrário.. mas aquele olhar, era profundo, cheio de mistério. mas o medo miudinho desapareceu por completo, sentia-me segura de alguma forma. fica-mos ali a olhar-nos por uns breves minutos até que ouvi um carro a estancionar á porta, olhei pela janela da cozinha e o rapaz aproximou-se para ver quem era também.
- eu não acredito que aqueles idiotas foram dizer aos meus pais onde eu estou. -exclamei.
- são os teus pais ? -perguntou-me.
-sim, são.
- e eles não te podem ver aqui ?
- eu não queria.. porque eles vão fazer tudo para me levar daqui.
ele pegou na minha mão e senti um arrepio enorme.
- confia em mim.. -disse-me com uma voz de conforto.
- devo confiar num morto ? -perguntei.
- não sou como aqueles que tu pensas..
não tive tempo de falar mais nada. estava-mos agora no sotão, mais obscuro que a própria casa, apenas havia um pouco de luz vindo de uma janela tapada com bucados de madeira. agarrei-me a ele, e fechei os olhos.
- calma.. -confortou-me.
larguei-o e encarei a escuridão por alguns minutos, havia um silencio eterno, mas depois apareceu uma cara no meio do nada.. tão feio, com dentes de tubarão, e cheios de sangue como quem acaba de comer uma pessoa viva. dei um pequeno grito mas que se ouviu na casa toda.
abraçei o Tom com lágrimas nos olhos.
- VAI-TE EMBORA, ESTÁS A ASSUSTÁ-LA ! -gritou para o bicho enquanto me abraçava.
«esqueçe Lisa, os teus pais já te apanharam.» -pensei.
fiquei parada, sentada naquela cama que não sabia bem o que estava uma cama a fazer no meio do sotão, confesso que ainda estava assustada com aquele bicho mas continuei imóvel.
- eles foram embora.. -disse-me.
- ainda bem. -respirei de alivio.
fomos para o meu quarto, ele conduziu-me até lá porque eu ainda não conheçia bem a casa. sentei-me no tapete e ele tirou umas cartas de uma gaveta que eu nem conseguia abrir á 1 hora atrás, depois sentou-se á minha frente.
- alinhas ? -disse-me mostrando o maço de cartas.
- sim. -sorri timidamente.
tinha alguns cortes no pulso, como quando o meu avô morreu, eu nunca ultrapassei essa perda, também os meus pais nunca tiveram tempo para mim, e o meu irmão andava metido em coisas ilegais, a minha avó está no hospital e ela é a unica que me compreende.
a minha manga subiu um pouco enquanto pousava as cartas no chão.
- cortas-te ?- perguntou ele.
- quando a dor me consome..
- conta-me a história de cada uma dessas feridas.
pôs um sorriso leve, arregaçei a manga e começei a contar a história de cada cicatriz.
- e tu ? cortas-te ? -perguntei-lhe.
arregaçou a manga e contou-me a história dos 4 cortes que tinha no pulso esquerdo.
- mas fala-me mais de ti.. como vieste parar aqui ? assim ? morto ? -perguntei.
- tens a certeza que queres ouvir a resposta ?- perguntou-me ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário